A lenda de Petra-Jordania

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Evidências arqueológicas revelam que uma deusa ainda mais antiga, dos tataravós beduínos dos nabateus, continuava sendo cultuada em Petra muitos séculos depois de esses antepassados terem abandonado as tendas. Seu nome, al-Uzza, corresponde à estrela vespertina (na realidade, o planeta Vênus), que, segundo a mitologia beduína, habitava uma árvore identificada como a acácia.

Relevos em alguns monumentos de Petra mostram que al-Uzza estava associada a Ísis e Afrodite.

A primeira, claro, é a deusa egípcia que reviveu o marido (e irmão) assassinado, Osíris, para copular com ele e gerar um herdeiro, Hórus; mais tarde, tornou-se a protetora dos mortos no antigo Egito, chamada por Plutarco de “deusa da Lua”, grande mestra dos segredos da magia e da arte de invocar espíritos.

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Afrodite, por sua vez, é a deusa grega da beleza e do amor (Vênus, para os romanos) também protetora dos viajantes. Seu culto é pré-grego e é possível que ela tenha entrado no mundo clássico vinda da Ásia via nabateus. Registros mostram que, em Corinto, os templos dedicados a ela eram locais de prostituição ritual. A deusa também é associada a Astarte, a divindade semita do amor e da fertilidade adorada em especial na Síria e Palestina (e na Babilônia, como Ishtar) e cultuada com orgias sexuais. Não é de admirar que Cleópatra tenha tentado (sem sucesso) convencer César a dar-lhe Petra como prova de amor.

A cidade permaneceu sob controle do Império Romano, que acabou causando sua ruína ao transferir as rotas das caravanas mais para o norte (Palmira, na Síria) e para o sul (o Golfo de Ácaba, entre Jordânia e Israel). Duzentos anos depois, Petra foi conquistada pelo Império Bizantino, que a ocupou durante quatro séculos, acrescentando aos monumentos nabateus duas igrejas cristãs, entre outras construções.

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No ano 363 de nossa era, Petra perdera sua importância e estava sendo abandonada. Com seu sistema de abastecimento de água em ruínas, servia agora mais como fortificação, tendo trocado de mãos diversas vezes nos combates entre cristãos e muçulmanos durante as Cruzadas. No século 16, o golpe final – o Império Otomano a conquista e a cidade desaparece dos mapas, literalmente.

Tendo se transformado numa lenda, Petra era conhecida somente pelos beduínos que continuavam vivendo na área e a guardavam zelosamente por acreditar que as tumbas cavadas na rocha escondiam tesouros. Em 1812, o aventureiro e explorador anglo-suíço Johann Ludwig Burckhardt, que viajava disfarçado de xeque árabe pela região, ouviu rumores a respeito de ruínas fabulosas e convenceu seu guia beduíno a levá-lo até lá, sob a alegação de que precisava cumprir a promessa de sacrificar uma cabra numa montanha próxima. Assim Petra foi redescoberta.

Os beduínos estão até hoje no local, embora tenham sido removidos pelo governo jordaniano e relocados na periferia do Parque Nacional de Petra. Eles retornaram para vender lembrancinhas e atuar como guias em troca de baksheesh, ou gorjetas. O acordo de paz assinado entre Jordânia e Israel no início da década de 90 chegou a dar a esperança de um surto turístico, nunca concretizado por causa da instabilidade política da região. Em tempos mais pacíficos, a cidade recebe turistas europeus, americanos e japoneses, vindos de Amã (a 260 quilômetros de distância) ou do porto de Ácaba (a 180 quilômetros), que apenas passam o dia. Não é o meu caso.

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